O texto "Animação Cultural", de Vilém Flusser, trata da condição humana pela ótica da objetividade, que, no texto, ganha conotação diferente da comumente empregada. De impacto inicial é a noção inovadora, para mim, de que o Homem é objeto antes de ser animal, ou de que, minimamente, na nossa cultura, o Homem posiciona-se, quase inconscientemente, como objeto. Ao mencionar o "mito fundador" da civilização ocidental contemporânea – trata-se, de forma discreta, da narrativa da criação do Homem segundo o livro do Gênesis, na Bíblia – o autor parte de um ponto de vista incomum para tornar notório o teor objetivo impresso na figura humana por nós mesmos. Ainda mais fascinante é a constatação subliminar da fragilidade da nossa mente, que insiste em acreditar no controle absoluto que supostamente exercemos sobre os objetos e a natureza que nos cercam. Mais adiante, o texto explora a "revolução" orquestrada pelos objetos, que têm por interesse maior controlar a humanidade, ainda que de maneira velada. A percepção, ao longo da leitura, de que, na realidade, isso já ocorre em inúmeras situações é intrigante e perturbadora. As pessoas nascem, crescem e morrem em função de objetos, ao mesmo tempo que por causa deles e cercadas pelos mesmos. Contudo, a abordagem à cultura pelo narrador, como maior obstáculo a ser transposto pelos objetos, evidencia a imprescindibilidade da manifestação e da apreciação culturais, uma vez que a cultura é uma expressão inteiramente nossa, humana e uma parte do que somos, bem como nossa maior forma de resistência à subjugação objetiva. A questão suscitada pelo texto que mais instiga reflexão é se o Homem é mesmo agente, ou apenas paciente na esfera da existência/realidade contemporânea.
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